Portugalid[Arte] #29
uma viagem com Catarina Costa, Matilha, S. Pedro, MEC x Maria João e dois lançamentos
[estante cápsula]
E Então, Lembro-me, Catarina Costa
A Catarina Costa foi uma das autoras que escolhi para ler no Alma Lusitana, em 2023. Embora não tenha sido arrebatada pelo Periferia, porque houve aspetos que não funcionaram muito bem comigo, fiquei bastante impressionada com a escrita, razão pela qual queria voltar a lê-la. Deste modo, fui descobrir o seu livro mais recente.
Gatilhos: Amnésia, Referência a Pensamentos Suicidas
E Então, Lembro-me começa de uma forma intrigante: Laila, a protagonista, acorda numa cama de hospital, de «uma cidade sitiada», amnésica e sem ovários. Assim que acorda, é integrada numa casa onde existem mais pessoas como ela. A servirem de «mão-de-obra num complexo fabril», procuram recuperar aquilo que lhes falta.
A partilha de recordações funciona não só para compreenderem quem são, mas também para entenderem a dinâmica da Irislândia (o local da ação). Portanto, as memórias são analisadas criteriosamente, com o intuito de serem relevantes para a sociedade e para os ajudar a traçar uma linha temporal lógica, unindo as pontas soltas.
O enredo vai, então, oscilando entre a realidade e a imaginação, entre a lucidez e a paranoia, para que se chegue a um consenso - ou, pelo menos, para que exista sossego. Através da personagem principal, percebemos que a desconfiança e o desnorte são transversais, e que tentam transformar esta nova condição num recomeço.
Nenhum dos envolvidos sabe, aparentemente, se está a ser punido por algo do seu passado, mas são essas ruínas turvas que pretende recuperar. E esta postura corrobora o quanto as memórias são uma fonte de identidade - individual e coletiva. Quando nos faltam, a nossa história fragmenta-se e sentimo-nos perdidos, como se deixássemos de pertencer, como se perdêssemos raízes. Sinto que a autora abordou bem esta questão.
Outro aspeto que achei interessante foi o modo como nos transportou, durante todo o tempo, para os pensamentos de Laila, descortinando cada camada, mas deixando a porta aberta para sermos surpreendidos. Porque há inúmeras áreas cinzentas que não conseguimos decifrar. Ademais, as descrições são bastante visuais e verosímeis, fazendo-nos acreditar que tudo aquilo poderia estar a acontecer à nossa frente.
Algumas ideias/passagens tornam-se um pouco repetitivas, no entanto, E Então, Lembro-me vale pelas reflexões que potencia. Num universo em que ninguém sabe bem quem é e de onde veio, será que há recordações que deveriam permanecer esquecidas?
🎧 Música para acompanhar: Autumnus, Lemos
[gira-discos]
A playlist da semana inclui: Monstros (Fitacola & Tiago Nogueira), Autumnus (Lemos), Nuvem Negra (Capitão Fausto) e O Bicho Anda Por Aí (Ana Lua Caiano).
O gira-discos tem dois álbuns novos: O Próprio (Dillaz) e Trovador (Ivandro).
[caixa mágica]
Matilha Ep.5
A paz inerente a um momento de descontração é rapidamente substituída pelo caos. Aquilo que poderia ser um ponto de viragem, é apenas a ponte para mais uma série de decisões complexas e um estado de conflito permanente. Para além de colocar uma bandeira nas feridas do passado, que parecem regressar sempre para nos atormentar, compreendemos melhor a infância de Mafalda e o dilema que terá de solucionar.
S. Pedro no Estúdio Dele
Sou muito fã do S. Pedro e das histórias que nos conta através das suas canções. Por isso, fiquei mesmo entusiasmada quando anunciou que iria começar a partilhar pequenos vídeos a falar sobre os temas, a forma como surgiram e como foram gravados. Acredito que este género de iniciativas nos aproxima não só do artista, mas também do trabalho em si, porque nos mostram um lado que nem sempre é visível. No primeiro vídeo, focou-se no seu lançamento mais recente, Tens-me à Mão.
[biblioteca sonora]
A História da Música
O novo programa da Antena 1, A História da Música, junta Miguel Esteves Cardoso e Maria João Esteves Cardoso, que nos trarão «as pessoas e as histórias por trás de cada música». Além disso, esta dupla procurará responder à seguinte questão: «o que seria uma melodia sem alguém se poder apropriar dela, imprimir-lhe uma sensação, torná-la uma banda sonora para a sua vida?». Mas descubram mais sobre o conceito aqui. Faço só a ressalva que há novo episódio todos os sábados, após o noticiário das 23h.
No episódio de estreia, estiveram à conversa com Sara Simão e o ponto de partida foi o tema Blister In The Sun, dos Violent Femmes. Recordando memórias da adolescência e demais momentos, foi mesmo curioso ver como a música nos permite pensar sobre tantos outros temas, como se associa a períodos concretos ou como pode ser ponte para a saudade. Que momento tão bem passado! E, confesso, senti um quentinho no coração quando uma das canções mencionadas foi a Trem das Onze, que eu adoro.
[bilheteira]
📖 Lançamentos
O novo livro da Maria Francisca Gama, A Cicatriz, chega hoje às livrarias. O livro de estreia do Álvaro Curia, Filhos da Chuva, chega na próxima quarta (21 de fevereiro).
📖 Apresentação do Livro Filhos da Chuva
A FNAC de Santa Catarina foi o local escolhido para a apresentação do livro do Álvaro Curia, Filhos da Chuva, porque «só podia ser ali, mesmo a dois passos de casa». O evento realizar-se-á no próximo dia 24 de fevereiro (sábado), às 16h. A apresentação ficará à responsabilidade do Flávio Alves e da Teresa Tomaz e a entrada é livre.
«e eu não fico onde eu não faço falta» [in Alô, Dillaz & Plutónio]